O Me Too Brasil, movimento inspirado em projeto semelhante de Tarana J. Burke, nos Estados Unidos, lançará no próximo dia 30 novo portal, totalmente repaginado. No Brasil, o Me Too foi fundado pela advogada Marina Ganzarolli em agosto de 2020 e, em pouco mais de um ano, recebeu 151 denúncias de violência sexual.
O movimento tem como premissa ajudar vítimas de violência sexual a romperem o silêncio, ampliando suas vozes por meio de apoio e de escuta qualificada.
"Acolho, voluntariamente, vítimas e sobreviventes de violência há 15 anos, e durante este período tenho me dedicado à pesquisa nesta área. Neste período pude constatar a ineficácia do estado brasileiro na resposta à violência sexual contra mulheres, crianças e adolescentes, e a necessidade da criação de uma organização de impacto que fosse específica para o enfrentamento da violência sexual contra todas as pessoas, inclusive contra os homens. Visto que muitas organizações brasileiras atendem crianças e adolescentes, e outras atendem mulheres adultas, mas nenhuma delas, antes do Me Too, trabalhava de forma integral com todas as vítimas de violência sexual”, afirma.
O Me Too Brasil é um canal de denúncias e voluntariado que funciona em parceria com o Projeto Justiceiras, idealizado pela promotora de Justiça, Gabriela Manssur.
A plataforma promove o acolhimento de vítimas de abuso sexual no âmbito jurídico, bem como psicológico, socioassistencial e médico.
O atendimento é realizado por voluntárias e integrantes do Justiceiras. São mais de 2.500 profissionais especializadas em todo o Brasil, que prestam orientação técnica para vítimas de abuso sexual, sob coordenação nacional da advogada Luciana Terra Villar.
Marina ressalta a importância da parceria, na medida em destaca a raiz do problema, que é o desrespeito e a incompreensão sobre o consentimento. Segundo a advogada, muito se fala sobre prevenção da violência e sobre como denunciar, discurso usualmente voltados para a mulher vítima ou sobrevivente.
“Porém, precisamos também conversar com os homens, com os meninos, em especial, a fim de construirmos uma sociedade que respeite e proteja, meninas, meninos, mulheres e homens. Com a união de esforços do projeto Justiceiras e apoio do Conselho Nacional do Ministério Público, o site do Me Too Brasil se tornou ferramenta de acesso para o apoio e orientação às vítimas”, complementa.
No portal é possível realizar denúncias de violência, se voluntariar para o projeto e fazer doações. A partir do preenchimento de um questionário, as vítimas de violência passam a receber atendimento dos integrantes do Me Too Brasil. A nova plataforma traz, ainda, vídeos, podcasts e conteúdo jornalístico.
Sobre Marina Ganzarolli
Ganzarolli acolhe voluntariamente, desde 2007, vítimas de violência baseada no gênero. Em março de 2020, iniciou o acolhimento de algumas das vítimas de um caso coletivo contra um produtor de cinema brasileiro. Foram meses de escuta das sobreviventes e inúmeras reuniões com coletivos de mulheres do setor audiovisual para desenvolvimento do projeto.
Em 31 de agosto de 2020, o caso foi tema de reportagem investigativa conduzida pelas jornalistas do Intercept. No mesmo dia, a campanha #MeTooBrasil foi lançada nas redes sociais e no site do Me Too Brasil, que entrou no ar pela primeira vez.