Ao contrário do presidente do Corinthians, Duilio Monteiro Alves, que lamentou a saída do técnico Cuca do time profissional de futebol do Clube, o Me Too Brasil vem à público dizer que é lamentável, na verdade, que a diretoria do time, que tem um histórico de defesa da democracia e dos direitos humanos, naturalize a contratação de um condenado por estupro coletivo de uma menina de 13 anos e que nunca cumpriu a sua pena. 

A organização repudia o fato de que em 2023, com os índices de violência contra a criança e o adolescente, a diretoria tenha passado um recado de omissão e desrespeito às mulheres, às torcedoras corinthianas, às jogadoras de futebol, às jornalistas esportivas, às crianças que amam o futebol.  

É lamentável, ainda, que a diretoria tenha informado que o técnico saiu do time por pressões externas ao futebol. Com esta mensagem, o time invisibiliza a voz de todas as atletas, jornalistas e torcedoras. A mensagem recebida é que o futebol parece ser um esporte sem mulheres. 

A organização Me Too Brasil está promovendo em parceria com as Dibradoras a campanha #CartãoVermelhoParaOAssédio contra o assédio a mulheres nas arquibancadas do futebol brasileiro (https://bit.ly/pesquisacartaovermelho), por meio de uma pesquisa sobre o assédio e ações efetivas junto aos clubes contra esse tipo de violência nas torcidas. Entre as sugestões já recebidas, está a implementação, pelos clubes, de cláusulas de rompimento de contrato anti-violência e anti-assédio para que agressores - a exemplo de Cuca, o goleiro Bruno e Robinho -  jamais possam voltar a atuar em qualquer time. 

Preocupam-se os clubes que os recentes escândalos sexuais e de violência baseada no gênero cometidos por atletas brasileiros causem danos irreparáveis à imagem do futebol brasileiro, mas o Me Too Brasil pergunta: e os danos irreparáveis causados às vítimas e seus familiares? Quem se preocupa com as sobreviventes de violência?   

Continuar contratando e oferecendo oportunidades para agressores dá a entender que se pode matar, estuprar e agredir mulheres, uma vez que eles nãoperderão nada e poderão facilmente seguir em frente em suas carreiras. Se à vítima não é dada a oportunidade de refazer sua vida, ao agressor parece ser algo legitimado. 

Isso serve, ainda, de mau exemplo para os jovens e crianças das categorias de base, já que elas passam a ver o crime como algo passível de perdão – ao menos no que diz respeito ao âmbito social, visto que muitos atletas formalmente acusados continuam a ter o prestígio de vários fãs e até mesmo de clubes. 

O Me Too Brasil apoia e vê positivamente a vitória das mulheres corinthianas que se mobilizaram contra a contratação de Cuca, mas lamenta o posicionamento do clube que não justificou a saída do técnico pelo motivo que deveria, a saber, uma condenação de estupro coletivo contra uma menina de 13 anos cuja pena nunca foi cumprida. Fica o alerta à sociedade sobre as consequências da naturalização da violência contra as mulheres que o futebol brasileiro - por meio de atitudes de seus jogadores e direções de clubes - estão passando para as mulheres, para a sociedade brasileira e para o mundo.