“Eu era só uma menina.”

 Essa frase vem me acompanhando depois de assistir um programa de tv em que uma mulher denunciava um curandeiro criminoso sexual. 

Sempre me vinham imagens, memórias, que passei, mas eu era só uma menina e não entendia nada. Somente há alguns anos entendi o que eu estava sentindo. Estava eu em um clube onde havia piscina, tinha entre 7 ou 8 anos, e era uma criança correndo e brincando na piscina. Teve um momento em que dois rapazes me seguraram, um em cada braço, me levaram onde eu não alcançava os pés, e começaram, por baixo da água, enfiar os dedos em minha parte íntima.

Eu gritava e gritava e gritava desesperadamente por ajuda, mas as pessoas em volta, achavam que eu estava gritando por ser uma criança. E como estava debaixo da água, não viam o que eles estavam fazendo. 

Mas, pensem comigo, se uma criança tem 2 marmanjos segurando um cada braço e a criança gritando, algo não estaria certo, não é? Eu continuava a gritar e nada, eles calaram minha boca e continuaram a colocar aquelas mãos em minha parte íntima. Até que finalmente se cansaram e me largaram.

 Lembro de sair correndo de dentro da água e querer ir pra casa. Hoje, me lembro bem de um deles, o outro não, mas um rapaz de família bem vista na cidade.

 Eu sempre lembrava disso em minha cabeça, só fui entender porque eu sentia tanto nojo, tanta repulsa, tanta raiva e vergonha de mim quando vi o caso de denúncia contra um agressor sexual na tv. 

Só consegui contar a minha família há uns 3 anos, e quando contei a resposta foi “Que mulher que não foi assediada, que não passou por algum estupro?” Não me senti acolhida e sim só mais vergonha, pensei muitas vezes em vir aqui contar, mas nunca tive coragem. 

Hoje conto por ver tantos casos com mulheres e volta sempre esses gatilhos.