Eu tinha 15 anos, estava ficando com um menino que já tinha vida sexual ativa, eu era virgem. Ele me falava abertamente sobre a outra ficante dele com quem ele tinha relações sexuais, eu tinha ciúmes mas não demonstrava já que também ficava aliviada por não ter essa "obrigação". Nosso relacionamento era "aberto", ele vivia insistindo para que namorássemos, porém eu não queria. Quando finalmente aceitei namorar com ele, ele passou a conversar sobre sexo todos os dias, o quanto tinha vontade, como agora éramos namorados e queria tirar minha virgindade. Eu falava que pra mim era difícil, não tinha vontade por ter sido molestada na infância por um ex amigo da família. Não importava o que eu falava, todos os dias ele insistia, ele me manipulou para que eu achasse que eu, como namorada, tinha obrigação de satisfazê-lo. Até que aceitei. Eu fui na casa dele algumas vezes para isso, mas nunca dava certo por ter alguém lá. Um dia ele me levou para um lugar distante e me fez fazer sexo oral nele, eu fiz obrigada, não queria, não estava gostando, e ele me violentou segurando e puxando meus cabelos. Essa foi a primeira vez. Até que um dia ele me levou num motel. Eu não estava acreditando que aquilo iria acontecer, meu corpo estava travado, não conseguia dizer que queria ir embora. Quando a penetração vaginal começou eu sentia muita dor, queria gritar, a dor era tamanha que quando ele mudou para a penetração anal, sem minha permissão, sem me perguntar, sem lubrificação ou qualquer preparação, foi como um alívio, pois a dor era menor do que a dor a qual eu estava sentindo em minha vagina. Hoje, com 25 anos, eu paro para pensar nisso e não sei como consegui suportar essa dor sem lutar ou falar nada, não sei como me submeti a isso. No dia seguinte eu sentia muita dor para sentar, eu queria muito falar com alguém sobre o que aconteceu, mas tinha muito medo de ser julgada. Naquela época eu não entendia que havia sido estuprada, eu achava que era normal sentir dor na relação, pensei até que nunca mais iria fazer aquilo novamente, mas ele me levou outro dia, no qual eu chorei. Ele também fez isso depois que estávamos separados, quando em um carnaval eu bebi muito por ter sido assaltada e estar triste, "amigos" que torciam para que nós ficássemos juntos me deixaram em um quarto sozinha com ele, mesmo sabendo que eu tinha tomado soro na veia por estar tão bêbada. Eu estava completamente vulnerável e sem noção nenhuma do que estava acontecendo, nesse dia aconteceu novamente. Por algum motivo eu continuei vendo ele, mesmo depois de termos nos separado. Aliás, eu que terminei o relacionamento depois de descobrir que ele estava me traindo. Por algum motivo, eu queria que ele gostasse de mim, eu o mantive na minha vida algum tempo, mesmo depois de parar de ter qualquer relação amorosa, eu o tinha como amigo, apesar dele sempre insistir em querer voltar, mesmo eu dizendo que não queria mais. Depois de algum tempo eu fui percebendo o quanto ele era invasivo e não aceitava que eu não queria voltar com ele, brigamos e nos afastamos. Esse afastamento me permitiu refletir sobre tudo que ocorreu e com a maturidade e conhecimento que adquiri hoje estou passando pelo reconhecimento de que fui vítima de abuso sexual. Acho que no imaginário social a gente pensa que um estupro só é um estupro quando não se conhece o estuprador e/ou quando há luta. Não é fácil mexer nessas feridas que estão aqui há tanto tempo, comecei a ter crises de ansiedade mais fortes (pois já tinha antes), estou depressiva e ainda tenho medo de ser julgada, mas junto vem uma vontade imensa de falar sobre, já que passei tanto tempo escondendo isso de todos. Também tenho muita vergonha, às vezes me pergunto se sou tão vítima assim, por ter permitido, por não ter falado nada...Hoje eu sei que fui coagida, que era muito inocente e não entendia, estou tendo acompanhamento psicológico e psiquiatra, tomo remédios, possivelmente até terei que aumentar a dose, todo o desvelamento sobre esse passado e esse reconhecimento do estupro não tem sido fácil, mas sinto que vou ficar melhor.