Renata Cruppi é referência no combate à violência contra a mulher no ABC Paulista. À frente da Delegacia da Mulher de Diadema desde 2012, é idealizadora do programa “Homem sim, Consciente também”.
Segundo a delegada, os casos de violência doméstica e sexual são muito peculiares e a vítima precisa encontrar um ambiente acolhedor, para que se sinta à vontade. “As vítimas sempre chegam bem fragilizadas. Então, precisamos fazê-las se sentir confortáveis, para que possam narrar todos os fatos e possamos trabalhar da melhor forma o caso.”
Renata Cruppi afirma que o medo é muito presente nos casos de violência, e o desgaste emocional muito intenso. Durante o relacionamento a mulher consegue distinguir os gatilhos que levam à violência, mas estando separados, segundo a delegada, ela fica insegura, com medo de ser perseguida. “Então, a mulher acaba se submetendo a um relacionamento abusivo por conta a insegurança”, pontua.
Para a delegada, a pandemia trouxe retrocesso na questão da igualdade de gênero, amparado pela falta de independência financeira. “Com o desemprego, a mulher permaneceu no lugar mais perigoso para ela, que é o lar. Ficou mais exposta ao agressor, sem rede de apoio e acolhimento. Não considero expressivo o aparecimento de novos casos. Considero revelação. Casos que já existiam, mas por conta da rede de apoio ela conseguia sair do ambiente e controlar um pouco mais (a violência). Como a vítima estava mais à mercê do algoz não restou alternativa a não ser revelar a violência”, afirma.
Cultura Patriarcal
A delegada destaca que a violência está atrelada à cultura patriarcal ainda difundida no país, em que o homem é superior à mulher, mais forte, mais competente e que desprestigia os talentos femininos. “Se começarmos a mudar esta perspectiva, colocando os valores corretos e dando aos dois as mesmas oportunidades, aí sim vamos ter um respeito maior. Ambos têm suas fragilidades, seus gatilhos e têm de ser respeitados.”
Outro ponto destacado por Renata é que a violência está relacionada à repetição do que foi vivenciado na infância e adolescência. “O casal geralmente reproduz o que vivenciou. Não tiveram orientações ou o conhecimento adequado que os permitisse ter um comportamento saudável. Não basta apenas o falar. O exemplo vem pelo agir do casal e os filhos vão reproduzir isso na fase adulta. São raros os casos de filhos que não vão reproduzem a violência. Então, precisamos ter mais diálogo, mas respeito dentro de casa e atitudes positivas”, destaca.
A sociedade tem papel imprescindível nas mudanças relacionadas à questão de gênero. “Precisamos conversar sobre as desigualdades. Precisamos dar mais voz para as mulheres, a fim de que tenham mais igualdade de competitividade. Precisamos que a mulher possa ser analisada por sua competência. Quanto mais falarmos sobre igualdade, mais vamos resignificar o patriarcado, e menos desigualdade e violência teremos.”
Combate a Violência
A violência contra a mulher não se resolve apenas com a polícia judiciária. Existe a necessidade da articulação de diversos serviços para que seja enfrentada efetivamente. Para esse enfrentamento, Renata Cruppi idealizou o programa “Homem sim, Consciente também”, que consiste na realização de sete encontros, com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar.
Segundo Renata, a orientação dos homens é essencial para que haja rompimento do ciclo e violência. “Não basta fortalecer a mulher para que tenha autonomia financeira e emocional. Ela vai conseguir se desvencilhar desse homem, mas ele vai fazer outra vítima. Com a intervenção o homem se conscientiza de que se tivesse feito diferente o relacionamento não teria terminado e se fizer diferente as coisas podem melhorar. Nosso objetivo não é a quantidade de homens que passam pelo programa, mas sim, a quantidade de homens que resignificaram seu papel social, como ser humano e buscam fazer a diferença e ser agentes multiplicadores”, destaca.