Pesquisa do Datafolha “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil”, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que durante o período da pandemia, e o consequente isolamento, caiu a violência na rua e aumentaram as agressões dentro de casa.

Segundo o levantamento, chamam a atenção dois fatores que não se modificaram nas três edições da pesquisa (2017, 2019 e 2021): as mulheres sofreram mais violência dentro da própria casa e os autores são pessoas conhecidas da vítima, o que concede um alto grau de complexidade ao enfrentamento da violência de gênero no que se refere à proteção da vítima, punição do agressor e medidas de prevenção. 

Os dados, segundo o estudo, revelam que a crise sanitária só tornou o enfrentamento da violência ainda mais difícil: mulheres convivendo mais tempo com seus agressores, perda de renda familiar, aumento das tensões em casa, maior isolamento da mulher e consequente distanciamento de uma potencial rede de proteção.

Estupros e feminicídios

Levantamento inédito do Fórum Brasileiro de Segurança Pública obtido com exclusividade pelo g1 e pela GloboNews, mostra que os casos de estupro voltaram a crescer no Brasil no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.

Segundo o portal g1, os registros de feminicídio no primeiro semestre de 2021 foram os maiores da série histórica iniciada em 2017

Dados do portal mostram que o número de estupros em geral e de vulneráveis, tendo a mulher como vítima, cresceu 8,3%, passando de 24.664 nos primeiros seis meses de 2020 para 26.709 neste ano. “O crescimento ocorreu no período em que a pandemia da Covid-19 foi mais letal, com destaque para o mês de maio”, afirma o g1.

Nos primeiros seis meses deste ano, quatro mulheres foram mortas por seus companheiros ou ex por dia no país: 666 vítimas de feminicídio de janeiro a junho, o maior da série histórica iniciada em 2017, quando as autoridades passaram a compreender melhor a Lei do Feminicídio, de 2015.

Segundo o 15º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho, quase 15% dos homicídios de mulheres cometidos em 2020, em que os autores do crime eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas, não foram registrados devidamente como feminicídio.

Formas da violência

Samira Bueno, diretora do Fórum, afirmou em entrevista à Agência Brasil que as formas de violência são muitas vezes invisíveis. Tem a ofensa verbal, o insulto, a humilhação ou um empurrão.

A pesquisadora diz que houve uma mudança em relação às pesquisas anteriores. Sete em cada dez agressores eram pessoas conhecidas como padrasto, ex ou atual companheiro, pai, mãe, irmão, irmã, e outras pessoas do convívio familiar. As mais impactadas pela violência são as mulheres negras e jovens.

A pesquisa aponta ainda dois dados que chamam a atenção. O primeiro é que a mudança da rotina em função da pandemia também refletiu nos números. Além de passar mais tempo em casa, as mulheres passaram mais momentos de estresse. O segundo é que as mulheres que tiveram a renda reduzida ou perderam o emprego foram mais agredidas. 

Samira Bueno afirmou ao portal que 45% das vítimas não denunciaram nem procuraram alguém para desabafar e optaram pelo silêncio.

Segundo levantamento divulgado pela Agência Brasil, o Ligue 180, a Central de Atendimento à Mulher, recebeu, somente de julho do ano passado a novembro deste ano, mais de 97 mil denúncias de violência doméstica e familiar contra a mulher.  Outras violações somaram mais de 24 mil casos no período.

Principais achados da pesquisa “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil 

A violência contra as mulheres durante a pandemia 

    • 1 em cada 4 mulheres brasileiras (24,4%) acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência ou agressão nos últimos 12 meses, durante a pandemia de covid-19. Isso significa dizer que cerca de 17 milhões de mulheres sofreram violência física, psicológica ou sexual no último ano.
    • Na comparação com a pesquisa de 2019, verificamos um leve recuo do percentual de mulheres que relataram ter sofrido violência, mas dentro da margem de erro da pesquisa, que é de 3 pontos para mais ou para menos (27,4% em 2019 e 24,4% em 2021), configurando estabilidade.
    • 5 em cada 10 brasileiros (51,1%) relataram ter visto uma mulher sofrer algum tipo de violência no seu bairro ou comunidade ao longo dos últimos 12 meses.
    • 73,5% da população brasileira acredita que a violência contra as mulheres cresceu durante a pandemia de covid-19.
    • Mulheres reportaram níveis mais altos de estresse em casa em função da pandemia (50,9% em comparação com 37,2% dos homens) e permaneceram mais tempo em casa, fato provavelmente vinculado aos papéis de gênero tradicionalmente desempenhados, dado que historicamente cabe às mulheres o cuidado com o lar e os filhos, o que aumenta a sobrecarga feminina com o trabalho doméstico e com a família.

Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Agência Brasil e Portal G1.