É bom poder contar a minha história. Por mais que neguemos e seja difícil de aceitar, isso que acontece, passa a fazer parte de nós.

Eu tinha 19 anos na época, em 2014. Fazia pouco tempo que havia terminado o ensino médio e estava esperando a resposta da classificação de uma Universidade Federal. Meu sonho sempre foi estudar em uma Federal… Aquele grande ilusão (não sei se todos têm).

Em agosto de 2014, saiu a classificação e consegui passar. Comecei minha graduação, estava indo tudo bem. A Federal tem festas todo final de semana e se deixar, todos os dias. 

Não era de frequentar festas (nunca gostei). Mas, em outubro de 2014, com nem 3 meses de faculdade, estava começando os famosos Intercursos, os jogos da faculdade. 

Bom, todo mundo ia! Por que eu não poderia ir um dia? Então eu fui com amigas da minha sala e sinceramente, estava achando bem legal. Beber? Sempre bebi pouco. Era daquelas que quando percebia que já estava alegre, parava. Nesse dia não foi diferente. 

Logo quando cheguei, um menino veio conversar comigo, perguntou meu nome, que curso eu fazia, me falou o nome dele e o seu curso também. Ele queria ficar comigo e eu não quis. Não gostava de ficar com meninos em festas, gostava de conhecê-los primeiro (antiquado? não sei.).

Ele insistiu, insistiu, segurava a minha mão. Até brinquei com as minhas amigas “Gente, me tira daqui!’’. Até que eu tive que me soltar e sair de perto dele. 

Neste lugar dos jogos, tinha a quadra de jogos e do lado de fora, os universitários faziam tipo uma “festa’’. Vendiam bebidas, comidas, colocavam músicas… Tudo parecia normal. Eu andei com minhas amigas, vi o pessoal da minha sala, pessoas conhecidas da faculdade. Até que encontrei um conhecido do meu curso, um veterano (eu era bixete na época, né). Ele me chamou para comprar uma bebida que um curso estava vendendo. Eu fui, no meio do pessoal mesmo, me deram um, eu bebi (lembro que estava até com sede e a bebida estava fraquinha).

Me passaram outro copo, na inocência, bebi e fui pagar, disseram “já pagaram’’. Depois disso? Não me lembro de muita coisa. Me davam apagões, não tinha noção de onde eu estava.

E do nada, quem me encontrou? O menino do começo, que quis ficar comigo e eu não quis. Eu não conseguia mais dizer não, não conseguia empurrar, nem nada. Ele só disse que me levaria embora, pegou na minha mão e eu fui.

Lembro somente de perguntar “Onde você está indo?” e ele respondeu “Vou passar aqui rapidinho”. O “Aqui” era o apartamento dele. Não me lembro como subi até lá. Tenho alguns flashes na memória, que não gostaria de ter. Ele me levou embora, cheguei em casa e dormi, ainda totalmente fora do ar. No outro dia, acordei sem entender. Passando mal, tentando lembrar algo e me culpando “Nossa, como eu fui parar lá?!”. Eu era virgem. Quando contei para minha amiga e ela disse “Isso é estupro, você precisa falar”, foi caindo a ficha…

Consegui lembrar do rosto dele e com ajuda de pessoas, saber o nome. 

Então, contei para minha mãe, ela chamou a polícia, me levaram ao hospital para tomar os medicamentos para prevenir várias coisas. E, sim, denunciei. Encontraram ele e como sempre, ele disse “Ela quis!”.

Esse ano fez 5 anos… Nada foi resolvido. Eu não estudo mais na Federal, mudei minha vida para tentar esquecer tudo isso. Ele? Se formou.

Mas sei que podem passar anos, isso vai ser resolvido. 

Ainda acredito na justiça. Se não for a dos homens, será a de Deus. 

Superar? Não sei. Seguir em frente, devemos tentar todos os dias.